Haja tanto tijolo baiano e telha Brasilit
Viajo num trem, até aqui, às margens d’um rio morto e
a beira d’morte, procurava saber o sentido do trem,
olhava pelas janelas riscadas e via a cidade e seus frutos
descaso e sucateamento.
Sentido gueto, o bicho homem se espreme em vagões
negreiros, meras releituras das naus portuguesas de
Cabral, no mais, não passam de cotidianos e corriquei-
ros auto flagelamentos, socialmente aceitos e
religiosamente repetidos.
Estampam-se nas faces o contentamento diário em ser-
vir aos patrões e integrações intermináveis entre as
paradas da via de mão dupla, vida, as janelas privatizam
o ar, a população aflita e compactada em latas locomo-
tivas, observa calma o destino de suas fezes, gozos,
pentelhos e sofás.
Carros são atirados ao rio, assim como cadáveres, que
com o tempo decompõem-se corroídos por outros se-
res vivos que nutrem-se através de nossa excreta e vís-
ceras, que são jogadas em todos os rios de são Paulo e
do Brasil, não só rios, mas na terra e no mar também...
Em qualquer lugar que consiga instalar-se, a ignorante
massa da qual faço parte, controlada pelas mãos do
patronado, pelas mãos da maquina publica que
a quer assim, por isso o faz.
Todos os dias dependuram-se nas portas dos ônibus,
pobres, submetendo-se a tratamento psiquiátrico, pois
não conseguem entender, que não paga-se para viver,
no entanto, nossa sobrevivência esta fadada a necessi-
dades básicas, que por sua vez são tarifadas em todo o
mundo, obrigando alguns desgraçados a recostarem
seus corpos imundos de fuligem e fezes nas calçadas da
loucura e como se fossem a própria são pisoteados
pelas multidões de outros pobres desgraçados aliena-
dos em sua rotina, pessoas famintas, viciadas e san-
grando pelo cu do bom senso tornaram-se fatos corri-
queiros, é normal ver um irmão sem casa, pedindo es-
mola no farol, ou tendo que degolar uma senhora que
não lhe deu o celular, no intuito de dar uma paulada na
própria cabeça
e esquecer a realidade que atormenta lhe o crânio.
A problemática que faz o moleque preto de favela pe-
gar num 38 e levar seu carro, o moleque ou a mina pre
ta de favela não ter condições de entrar numa faculda-
de federal, partidos políticos realizarem delações pre-
miadas, é a mesma que faz, um boy passar a mão na
bunda da empregada, o patrão chantagear a secretaria
em troca de um boquete, 30 homens estuprarem uma
jovem de 16 anos, 16... Anos..., 500 anos de estupro,
às índias, às negras, às brancas, às pobres e às ricas, à
todas as brasileiras... incontáveis anos de abusos aco-
metidos à todas às mulheres do mundo...
A pobreza é fruto da riqueza, não há como sustentar
alguns poucos com tanto dinheiro sem sujeitar muitos a
morrer de fome e a enlouquecer, eu vejo o povo sujo e
maltrapilho jogar-se pelas vielas da realidade, gritando
aos seus que lhe deem um prato de alguma coisa
ou uma boa dose de qualquer coisa.
É impossível ser feliz sabendo que seus camaradas ge-
mem de fome e loucura, enquanto outros boquiabertos
diante do pastor, esperam que “deus” lhes opere um
milagre e lhes de uma casa, e de um carro, e de dinhei-
ro, e de radio, e de celular, e mais coisas e mais coisas.
É impossível ser feliz sabendo que bandido bom é ban-
dido morto, que as mulheres têm que ser totalmente
humilhadas para saberem quem é que manda, que ho-
mossexuais, bissexuais e transexuais não podem existir,
pois “deus” com sua varinha de condão disse que não,
ou que jovens não tenham o direito de descobrir e deci-
ir seus próprios caminhos.
Quando há tantos que gemem é impossível deixar de
ouvi-los, seu som chega a ser atordoante! No entanto,
alguns conforma-se apenas em ouvir o que é produzido
dentro de suas cabeças e deixam suas vidas a mercê do
que lhe foi resignado, fazendo seus trabalhos e seguin-
do seus caminhos, apenas.
Eu quero é mais, eu quero viver sobre as águas límpidas
e cristalinas do Caparaó, eu quero olhar de cima e ver o
mal do mundo, confrontar-lhe e vencer, desferindo cem
golpes e perfurando-lhe a carne com uma lâmina feita
de aço e seu cabo Ticum, que é pra ter certeza de que
[morreu...
- Morreu, esta morto, venha ver Nice, morreu, morreu!
- Ahra homi, faze festa na morte dos outro?
- E tu sabe quem morreu? O Capital, O capital morreu!
Então alisemos nossos corpos nus, em uma comunhão
celestial e sodomita em homenagem a morte do mora-
lismo e dos valores ético sociais e o fim da repressão,
o fim da opressão, o fim da miséria e escravidão.
Viva o caos, viva!!!
Alegre, 2017