8.9.17

14

É denso o querer,
a penumbra atinge meu corpo,

Vejo uma jaboticabeira florida
maritacas a gargalhar, empoleiradas
em seus galhos retorcidos.

Queria pra mim a paz mundana dos seres,
a contemplação da vida, e o rumo de ir.

É evidente o medo de ser.

O sentido de viver não há,
apenas viver e existir, da forma que preferir, quiser ou já da forma que é.

Ser quem é!
Ser o que é!
Ser mais que isso!
Ser tudo aquilo que o mundo é, ser a vida em si!

Árvores repetitivas, sangue nas flores,
espalham-se pelas montanhas/pastos,
tomando sua esquálida arquitetura.

Uma viatura
me faz refletir Como eu não gosto dela,

E nem das lombadas que forçam o ônibus a diminuir e socar a minha coluna contra o banco.

Éramos todos acentos,
maresinhos em compotas,
estacionados e em trânsito, intenso,

O vento que circunda o espaço é forte,
entra pelas janelas do carro e tomam-nos
os corpos, empoeirados e disformes.

A moça ao lado, dorme um sono incrédulo.
Admirada em seu por do sol.

Uma curva, um rio, Itapemirim.
Tupi, pedra pequena,
o rio é leito e a margem é pedra, montanha.

O nome do Rio não se dá por onde estou,
mas por outra cidade,
Cachoeiro de Itapemirim, pedra pequena,
maior polo de granito do Brasil,
não gosto de lá,

Internalizo o pensar,
só queria um ticket pra comer no RU.

O tempo é relativo assim como o querer.

Desatino em lombra e reflexões.

13

Paineiras

Em meio ao azul, voam painas.
É setembro e os morros
pelados cercam a cidade, incógnita.

Às vezes pasto, sempre café,
a floresta cercada em solidão,
Fragmentada em sínteses monetárias
encontra-se incólume nos topos.

A exploração do solo transgride a ocupação,
sua face predatória e fútil
garante o sucesso capital,
a distribuição em larga escala e o consumo
do venenoalimento que nos nutre
sem escolha de ser, natural.

Agrointoxicados, estamos em transe,
sinestesicamente retro alimentando-se
do bagaço, inerte alimento.

Gritam as Siriemas!

Enebrie-se ó senhor das intransigencias,
dos amores esqualidos, e da fome que
preenche os corpos dos lavradores,
que por sua vez lavram pedra.

Esticados em calçadas e afins
amontoam-se em incontáveis mundos,
tomados pela pedra que não cultivam,
adensados e em crise, viciados em morrer.

As painas continuam a cair, lentas e sem rumo certo, ao contrário dos corpos,
antes alvo, antes jovens,
Que têm seu rumo pré fixado, chão,
Ou cova, às vezes funda, branca, sempre
Rasa, negra e embebida em preconceito.

3.9.17

12

Com sua boca inchada,
Molhada de palavras ceifadas,
Mostra-se incógnito à vida.

À primeira impressão,
apenas um velho babão, cheio de sirenas mentais,
re-representativas aos olhos de quem vê.

No entanto, mesmo meio a tantos sons
que irrompem o silencio de sua escuridão,
alivia sua calma,

Da mais um trago no vinho
com a esperança de que seu corpo caía no chão.

Desfalecido e podre.

Decomposição e morte.


Atormentam a mente do velho,
o social perdeu-se e a comuna destituiu-se,
resta-nos os mortos e o dinheiro,
que não financiam ou justificam o real...

22.8.17

11

Brancura 

A brancura da minha pele,
não condiz com a sua branquitude,
atitude podre,
não fez além de dor,

É historicamente culpado, pelos atos que cometeu.
escravidão, genocídio, segregação,
estupros coletivos a moral...
Afinal,   oque é moral?
Moral é o que o tempo não condena no tempo atual?

Cercou o que não era seu e proclamou,            
            republica...

Tomou no grito e de assalto,
e gritando ordenou...

Que os todos pretos trabalhem,

Que os indígenas morram,

E os pobres... Que se fodam.

Não tenho em mim e não quero ter
a brancura de ser
supremacia, só se for do prazer,
do amor, do deleite em gozar.

Ainda existem os que gritam em plenos dias atuais,
por opressão, segregação...
Querem levantar sua mão em um ato nauseante
fétido e pop no mundo atual...

Hail Hitler...        ouve-se ao fundo...

E abanda toca...
Um violão, um trompete, uma bateria e um baixo,
mais alguns instrumentos se juntam...

A ruina do mundo é querer para si
o que não deve ser de ninguém
e sem olhar o próprio cu julgar a outrem.

E então ficar girando em volta da própria bosta
num intuito impulsivo de esperar que o alimento
já digerido, agora fezes,
volte ao cu e saia pela boca 

inconvenientemente quente, uma torta de maçã...

Hail Hitler... Ouve-se ao fundo...

Vomito... Excrementos, sangue e vísceras.

Um som forte ecoa, sangue escorre pelo chão.

Seu Zé, 56, pedreiro, levanta sua enxada e com as costas desce
sobre a testa do nazista que berrava...

Então proclama:

- Vocês todos viveram, vivem,    sentem...
Mas todos exalam o mesmo aroma na morte,

Podridão...

Todos ouviram, ninguém se mexeu...
Vira-se e sai.

É triste carregar em si o peso da merda dos outros,
sempre pendurada em sua cueca,
fedendo todos os lugares que passa seu corpo.

Sistematicamente o som cresce
como o desconforto em minha cadeira.

Excremento, sangue e vísceras
o fedor cresce conforme nota-se mais,

Ainda sim, alguns o carregam sem saber.
Tem hora que de tanta consciência
da merda que carrega, o cheiro passa,
transpassa em feto, abortado de si.

Tomo para mi tais versos:

“A cidade não para, a cidade só cresce,
o de cima sobe e o de baixo desce”.

Bocas imundas e incompletas,
atadas, seladas,                               boquiabertas.

Pasmadas aos ares como chuva que não cai,
atordoadas em seu leito,            nuvens,
as gotas,
incólumes,         fetos abortados de si.
Disforme, atinge a terra,
onde sucumbe em água, lagrimas de mim.


Eu enquanto água, deito em luto sobre a terra húmida!
                                     Húmus ou ida um dia tudo vira...

24.2.17

10

Haja tanto tijolo baiano e telha Brasilit

Viajo num trem, até aqui, às margens d’um rio morto e
a beira d’morte, procurava saber o sentido do trem,
olhava pelas janelas riscadas e via a cidade e seus frutos
                                                    descaso e sucateamento.

Sentido gueto, o bicho homem se espreme em vagões
negreiros, meras releituras das naus portuguesas de
Cabral, no mais, não passam de cotidianos e corriquei-
ros auto flagelamentos, socialmente aceitos e
                                               religiosamente repetidos.

Estampam-se nas faces o contentamento diário em ser-
vir aos patrões e integrações intermináveis entre as
paradas da via de mão dupla, vida, as janelas privatizam
o ar, a população aflita e compactada em latas locomo-
tivas, observa calma o destino de suas fezes, gozos,
                                                             pentelhos e sofás.

Carros são atirados ao rio, assim como cadáveres, que
com o tempo decompõem-se corroídos por outros se-
res vivos que nutrem-se através de nossa excreta e vís-
ceras, que são jogadas em todos os rios de são Paulo  e
do Brasil, não só rios, mas na terra e no mar também...
Em qualquer lugar que consiga instalar-se, a ignorante
massa da qual faço parte, controlada pelas mãos do
patronado,    pelas  mãos  da  maquina  publica  que
                                            a quer assim, por isso o faz.

Todos os dias dependuram-se nas portas dos ônibus,
pobres, submetendo-se a tratamento psiquiátrico, pois
não conseguem entender,  que não paga-se para viver,
no entanto, nossa sobrevivência esta fadada a necessi-
dades básicas, que por sua vez são tarifadas em todo o
mundo, obrigando alguns desgraçados  a recostarem
seus corpos imundos de fuligem e fezes nas calçadas da
loucura e  como se fossem a própria são pisoteados
pelas multidões de outros pobres desgraçados aliena-
dos em sua rotina, pessoas famintas, viciadas e san-
grando pelo cu do bom senso tornaram-se fatos corri-
queiros, é normal ver um irmão sem casa, pedindo es-
mola no farol, ou tendo que degolar uma senhora que
não lhe deu o celular, no intuito de dar uma paulada na
própria                                                                 cabeça
    e esquecer a realidade que atormenta lhe o crânio.

A problemática que faz o moleque preto de favela pe-
gar num 38 e levar seu carro, o moleque ou a mina pre
ta de favela não ter condições de entrar numa faculda-
de federal, partidos políticos realizarem delações pre-
miadas, é a mesma que faz, um boy passar a mão na
bunda da empregada, o patrão chantagear a secretaria
em troca de um boquete, 30 homens estuprarem uma
jovem de 16 anos, 16... Anos..., 500 anos de estupro,  
às índias, às negras, às brancas, às pobres e às ricas, à
todas as brasileiras... incontáveis anos de abusos aco-
metidos à todas às mulheres do mundo...


A pobreza é fruto da riqueza, não há como sustentar
alguns poucos com tanto dinheiro sem sujeitar muitos a
morrer de fome e a enlouquecer, eu vejo o povo sujo e
maltrapilho jogar-se pelas vielas da realidade, gritando
aos seus que lhe deem um prato de alguma coisa
                                 ou uma boa dose de qualquer coisa.

É impossível ser feliz sabendo que seus camaradas ge-
mem de fome e loucura, enquanto outros boquiabertos
diante do pastor, esperam que “deus” lhes opere um
milagre e lhes de uma casa, e de um carro, e de dinhei-
ro, e de radio, e de celular, e mais coisas e mais coisas.
É impossível ser feliz sabendo que bandido bom é ban-
dido morto, que as mulheres têm que ser totalmente
humilhadas para saberem quem é que manda, que ho-
mossexuais, bissexuais e transexuais não podem existir,
pois “deus” com sua varinha de condão disse que não,
ou que jovens não tenham o direito de descobrir e deci-
                                              ir seus próprios caminhos.

Quando há tantos que gemem é impossível deixar de
ouvi-los, seu som chega a ser atordoante!   No entanto,
alguns conforma-se apenas em ouvir o que é produzido
dentro de suas cabeças e deixam suas vidas a mercê do
que lhe foi resignado, fazendo seus trabalhos e seguin-
                                              do seus caminhos, apenas.

Eu quero é mais, eu quero viver sobre as águas límpidas
e cristalinas do Caparaó, eu quero olhar de cima e ver o
mal do mundo, confrontar-lhe e vencer, desferindo cem
golpes e perfurando-lhe a carne com uma lâmina feita
de aço e seu cabo Ticum, que é pra ter certeza de que
                                                                        [morreu...

- Morreu, esta morto, venha ver Nice, morreu, morreu!
- Ahra homi, faze festa na morte dos outro?
- E tu sabe quem morreu? O Capital, O capital morreu!
Então alisemos nossos corpos nus, em uma comunhão
celestial e sodomita em homenagem a morte do mora-
lismo e dos valores ético sociais e o fim da repressão,
o fim da opressão, o fim da miséria e escravidão.
                                                       Viva o caos, viva!!!
                 
                                                                                           Alegre, 2017